o projeto

O Projeto Volante teve início no segundo semestre 2009 na oficina de gravura do Sesc Pompeia, sob coordenação de Cleiri Cardoso e Marcelo Heleno, com o objetivo de externar a produção do ateliê. Chamada então de Exposição Volante, a proposta reuniu imagens impressas pelos participantes dos cursos de gravura, que foram distribuídas junto a aglomerados de pessoas dentro das oficinas e também nas áreas de circulação do Sesc. As ações de distribuição criavam breves pausas nas situações estabelecidas naqueles espaços, promovendo uma efêmera exposição.

Em sua primeira edição, cerca de 1500 volantes foram produzidos pelos participantes das atividades do ateliê e distribuídos no Sesc Pompeia e em universidades de São Paulo. Foram utilizados os processos de gravura em relevo, carimbos, tipografia e gravura em metal. Todos os volantes foram identificados no verso com carimbo do projeto e o endereço do blog do ateliê, onde os interessados poderiam obter informações e acessar as imagens e nomes dos participantes. Nesta e nas demais edições do projeto foram formados conjuntos com todos os volantes produzidos, destinados a acervos de ateliês de gravura para consulta e manuseio.

Na segunda edição do projeto, Paula Ordonhes e Sergio Antunes Kal passam a integrar o grupo que coordena e realiza as ações. O projeto é selecionado para a programação do 24º Festival de Artes do Ateliê Livre de Porto Alegre, em 2010. A convocatória para envio de volantes é estendida aos ateliês de gravura e artistas da cidade de São Paulo, estabelecendo assim um intercâmbio com os ateliês e um diálogo entre as produções dos frequentadores destes espaços. Foram reunidos cerca de 3000 volantes, além dos produzidos durante a semana do festival por artistas locais. Os trabalhos foram distribuídos no centro da cidade de Porto Alegre. Nesta segunda versão do projeto, o grupo se concentra em ampliar os registros em video e fotografia das ações, atentando para a importância das reflexões voltadas para este momento do trabalho. O site também ganha maior relevância, servindo como um espaço de conexão entre os diversos tópicos do projeto e local de arquivo.

No início de 2011 o Volante foi selecionado para participar do programa de exposições e residências do ateliê canadense Presse Papier, em Trois-Rivières, Quebec. A proposta resultou em uma exposição realizada no mês de maio de 2012, reunindo todos os volantes que participaram das outras edições do projeto assim como os resultantes de uma convocatória nacional lançada em agosto de 2011 através da internet. A convocatória foi estendida a artistas canadenses; além das técnicas contempladas nas edições anteriores, o stencil e a serigrafia são incluídos como formas possíveis de participação. Cerca de 10 mil volantes foram reunidos nesta edição. Além da exposição no Centre de Diffusion Presse Papier, foram realizadas ações de distribuição em Trois-Rivières e nas cidades de Quebec e Montreal.

Em dezembro de 2011 o Projeto Volante foi contemplado pelo edital Rede Nacional Funarte Artes Visuais / 8ª edição, através do qual realizou parcerias com o Ateliê do Porto em Belém e o Ateliê de Gravura do Museu do Trabalho em Porto Alegre, resultando em semanas de produção coletiva de volantes com artistas locais seguidas de ações de distribuição em espaços públicos destas cidades. As ações foram registradas em video que, junto aos registros das ações no Canadá, integrou a exposição no Atelier Presse Papier e também compõe os conjuntos de volantes desta etapa do projeto.


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O surgimento da gravura no ocidente em meados do século XIV causa uma revolução que talvez só encontre precedentes na invenção da escrita. É o ponto de partida para a veiculação de imagem e texto em larga escala.

Um dos desdobramentos da invenção da gráfica é o volante, meio eficaz de circulação de informação, usual ainda hoje. O volante tem na mobilidade sua natureza e pode ser definido como aquele que voa ou tem a capacidade de voar, que não é fixo, que flutua.

O projeto propõe uma reflexão acerca deste meio, hoje usualmente associado à propaganda barata, reconfigurando seus usos correntes e o inserindo no campo artístico como instrumento poético. A produção dos volantes utilizando processos manuais de reprodução de imagem reafirma as qualidades singulares da gravura enquanto linguagem e instrumento de manifestação nas artes visuais. Ao recolocar a imagem impressa em movimento, opera-se uma reflexão sobre os formatos e espaços de apresentação da gravura e sobre suas possibilidades de inserção e circulação.

O volante procura abrir um hiato no cotidiano urbano, no trajeto do passante, na visualidade muitas vezes opressiva dos grandes centros, e permitir ou gerar espaço para uma pequena revelação. É em sua imagem / mensagem portanto que ele deve ser potencialmente instigador, capaz de ativar seu interlocutor através da experiência visual.

Parte importante da estratégia de circulação da convocatória, das imagens recebidas e dos registros das ações em espaços públicos, o blog do projeto funciona como uma publicação virtual, agregando todos os aspectos da proposta e permitindo que o acesso a estas informações aconteça em qualquer momento e lugar. Articulam-se assim meios de reprodução e veiculação de imagens que remontam a séculos de história, como a xilogravura, às potencialidades dos meios digitais.

Em todas as edições do projeto foram organizados conjuntos de volantes com parte das tiragens de cada estampa, constituindo também uma espécie de publicação que, embora em número menor e mais restrita, torna-se importante por agrupar fisicamente os trabalhos recebidos. Oferecidos a ateliês e instituições para consulta pública, os conjuntos funcionam como documentação material do projeto e tornam possível o acesso aos volantes em locais onde ainda não aconteceram ações de distribuição.

Estabelecem-se assim duas formas - blog e conjuntos - de contato com o mesmo grupo de imagens, discutindo visualidade, materialidade e possibilidades de circulação da estampa em múltiplas plataformas.